sábado, 28 de novembro de 2015

OS ASPECTOS TEOLÓGICOS DA PROFECIA DE JOEL

III – ASPECTOS TEOLÓGICOS DA PROFECIA DE JOEL.

Rev. João Ricardo Ferreira de França.
3.1 – O dia do Senhor [Joel 1.15; 2.1,11; 3.14]
O conceito predominante na profecia de Joel é “o dia do Senhor” a expressão hebraica “יוֹם־יְהוָ֖ה ” [Yom-Yahweh] é necessário esclarecer que aqui não se trata do dia de adoração. Para os judeus este dia seria o dia em que Israel seria vitorioso na terra, um dia em que haveria uma intervenção divina em seu benefício; entretanto, este não era o sentido do uso do termo nos dias de Joel.
O conceito encerrado na expressão hebraica surge inicialmente na profecia de Amós 5.18-20. Percebe-se que o dia do Senhor na profecia dos profetas menores tem um aspecto escatológico significativo de julgamento divino. Mas, há profetas que usam o termo na estrutura escatológica positiva como é o caso de Isaías no capítulo 2.1- 4 onde a expressão indica claramente uma referência aos dias do Messias; entretanto, o dia do Senhor em Isaías assume uma tônica negativa no capítulo 13 descrevendo o juízo divino contra a Babilônia.
Agora em Joel a expressão “o dia do Senhor” tem sempre uma evocação negativa apontando para o juízo divino sobre o povo. Este dia, segundo a profecia de Joel, é um dia de trevas (Joel 2.1-2). A expressão um “povo grande e poderoso” é uma referência as nuvens de gafanhotos e a narrativa segue apresentando a marcha dos gafanhotos devastando tudo. Um comentarista oferece uma exposição interessante deste ponto:
A descrição da praga segue, mas há uma mudança dramática: com imagens poéticas vivas, o profeta compara os gafanhotos a um exército invasor. Esse ataque é tão terrível que de alguma forma deve relacionar-se com o Dia do Senhor (vv. 1, 11), já anunciado (1.15). O exército de gafanhotos é a linha de frente, e a revelação plena da ira de Deus seguirá em comboio. Os gafanhotos são reais, não figurados. Mas a própria realidade e tão surpreendente que traz insinuações de uma realidade ainda maior: o exercício divino do juizo universal.[1]
            E este juízo torna-se mais emblemático na linguagem dramática em forma poética em relação aos elementos cósmicos descritos no capítulo 2.31, a linguagem empregada aqui “ transmite as imagens e os odores da batalha, enquanto o Senhor faz guerra contra Seus inimigos, deixando tropas ensangüentadas, cidades queimadas e destroços fumegantes em Seu rastro (cf. Is 34.5-10; Ez 32.6,7; 38.22, onde a destruição de Edom, Egito e Gogue e descrita em termos de sangue e fogo)”[2].
            Vale salientar que “O sol escurecido e a lua em cor de sangue fazem lembrar os efeitos das nuvens de gafanhotos descritas em 2.10.”[3], mas na passagem aqui refere-se a um evento escatológico a cumprir-se indicando os fins dos tempos. Entretanto, deve-se ressaltar que o sentido pretendido deve ser encarado “como descrições dramáticas de uma batalha que provoque uma fumaça tão espessa que os próprios luzeiros celestes fiquem obscurecidos.”[4]
3.2 – Chamada ao Arrependimento [ Joel 2.12-17]
            A doutrina do arrependimento é evocada na profecia de Joel. Aqui nós ficamos cientes de que “se o povo se convertesse, talvez Deus se arrependesse, diz Joel”.[5] Schökel lembra-nos que “a catástrofe nacional incita a una atitude de conversão profunda, interior, manifestada externamente na jornada de jejum e arrependimento para suplicar a compaixão divina”.[6] O texto fala de um “arrependimento de Deus” o que isso significa? Aqui se trata de uma antropopatia (atribuir sentimentos humanos a Deus) a palavra hebraica usada aqui para este arrependimento é “נִחָ֖ם ”[naham] esta palavra tem dois sentidos básicos: (1) “Conforto e consolo” o verbo é usado para “ser confortado na pederda” (2) “sentir muito arrepender, mudar de mente” e “em muitos casos, a “a mudança” de opinião do Senhor é uma reação graciosa a fatores humanos” e por outras vezes a palavra nos levar a inferir que a “mudança se deva a sentimentos de compaixão por uma pessoa ou povo.”[7] A ideia aqui é “de respirar profundamente”,  com o foco de um profundo sentimento de tristeza. E, aqui é uma promessa em resposta a reação do povo em relação à conversão.
            A chamada ao arrependimento era em tom da mais extrema urgência as trombetas tinham que ser tocadas (Joel 2.15) e sua necessidade era dramática conforme lemos que até as crianças de peito deveriam está presentes na convocação solene para esta necessidade (Joel 2.16) todo o povo é chamado a arrepender-se. No verso 17 vemos que os pastores do povo (os sacerdotes) deveriam orar e lamentar pelo pecado da Igreja do Antigo Testamento e clamar perdão perante Yahweh. No capítulo 1.13-14 esse clamor já fora exigido em termos dramáticos, deveria ser uma oração sincera demonstrando genuíno arrependimento.
            Na cultura hebraica os lutos e arrependimentos eram demonstrados publicamente por meio do rasgar as vestes e no humilhar-se no pó e na cinza, entretanto, a atitude exigida na profecia de Joel não é externa, mas interna (Joel 2.13). O vocábulo “coração” que é usado pelo profeta nesta passagem é “לֵבָב”[lebab] não refere-se aos sentimentos como nós da cultura ocidentais pensamos, ela “abrange tudo o que atribuímos à cabeça e ao cérebro: a faculdade cognoscitiva, a razão, a compreensão, o entendimento, a consciência”[8] e tudo relacionado a este campo.
3.3 –  O Cumprimento da Promessa divina de restauração [Joel 2.18-27]
            Quando o povo da aliança arrepende-se diante de Deus. Ele cumpre a sua promessa de abundância prometida na porção bíblica anterior. Este cumprimento da promessa está ligado inevitavelmente ao arrependimento do povo. O comentarista Hubbard tece os seguintes comentários:
O versículo 18 é o ponto decisivo do livro. De 1.2 a 2.11, o tema era a invasão de gafanhotos, com todas suas alarmantes insinuações do Dia do Senhor. A graça, ofertada em 2.12-17, marca a transição do juízo para a restauração. O versículo 18, a narrativa de introdução do profeta para o discurso de salvação de Javé a partir do versículo 19, começa a delinear essa restauração com suas implicações tanto locais quanto cósmicas, tanto imediatas quanto futuras. Devemos presumir que, entre os versículos 17 e 18, o convite e as ordens dos versículos 12 a 17 foram aceitos e obedecidos.[9]
Esta passagem supracitada revela-nos que o povo tendo “ouvido o chamado ao arrependimento e se convertido”[10], Yahweh mudou o destino deles.Que conseqüências reais são trazidas pelo arrependimento genuíno do povo nos dias de Joel?
a)      As lavouras voltariam a produzir (Joel 2. 19)
b)      A nação não seria alvo dos escárnios das nações vizinhas (Joel 2.19b)
c)      Os gafanhotos seriam retirados (Joel 2.20)
d)     O povo teria conhecimento de Deus ( Joel 2.27)
Isso tudo seria o resultado de um arrependimento sincero e contrito perante Deus. Nada do que foi esboçado acima havia acontecido ao povo, entretanto, havia uma promessa de que isso ocorreria em breve no momento em que o povo abandonasse seu pecado.

3.4 – O Papel do Espírito Santo na Profecia de Joel [Joel 2.28 a 3.1-5 – última porção no Texto Hebraico]

            Joel desenvolve, em sua profecia, uma teologia pneumatológica significativa que trata do derramamento universal do Espírito Santo sobre o povo do pacto. O arrependimento demonstrado pelo povo “ensejou a restauração, um trato novo de Iahweh com o povo” e o conteúdo deste novo pacto consiste no fato de que o “Espírito será derramado sobre toda a carne”.[11]
            Na pericope, que é objeto de nosso estudo neste momento, acima mencionada temos o tema da universalidade da ação do Espírito de Deus. Isso aqui é importante, pois, nos tempos do Antigo Testamento o Espírito divino era dado apenas uma elite bem seleta. E o desejo de Moisés conforme expresso em Números 11.29 encontra-se, de certo modo, manifestado aqui nesta passagem. O grande profeta do Antigo Testamento gostaria que o Espírito Santo fosse partilhado com todo o povo do pacto, isto porque, conforme afirmamos acima, naquele tempo apenas a elite religiosa tinha a ação do Espírito de Deus sobre suas vidas, por exemplo:
a)      Os Juízes (Juízes 6.34)
b)      Os Reis (1º Samuel. 10.6,10)
c)      Os profetas (Isaías 61.1; Miquéias 3.8)
d)     Eventualmente o Espírito vinha sobre outras pessoas como é caso de José onde o Faraó reconheceu nele a ação do Espírito de Deus (Gênesis 41.38).
Mas, “agora cada pessoa do povo de Deus se tornará profeta, e o desejo de Moisés será cumprido”.[12]  Aqui Joel salienta  que Deus dará o seu “espírito a todos, sem distinção”, quebrando as seguintes barreiras:
1.      A barreira da idade (velhos e jovens);
2.      A barreira social (escravos e escravas);
3.      A barreira de sexo [gênero] (filhas e filhos).[13]
O profeta encerra a sua profecia apresentando a linguagem poética da profecia sobre prodígios nos céus e na terra. Bem como “sangue e fogo, colunas de fumaça, o sol convertido em trevas e a lua em sangue”.[14]
Estes elementos cósmicos formam o corpo da mensagem profética apontando para o juízo sobre os rebeldes ao pacto e as nações inimigas. Devemos considerar que “sol”  e “lua” tem seus precedentes nas Escrituras como luzeiros que governam, ou seja,  que regem o mundo (Gênesis 1.14-16); no progresso da revelação estes elementos cosmológicos são usados para representar as autoridade e governantes terrenos.
A literatura profética do Antigo Testamento está sobeja desses exemplos, conforme vemos em Isaías 13:9-10; esta passagem trata especificamente da queda do império Babilônico. Outra passagem das escrituras que evoca o mesmo vocabulário poético-profético está em Amós. 8.9 quando profetiza a ruína de Samaria (Israel / reino do Norte). E o último exemplo é o de Ezequiel 32:7-8 quando profetiza contra o Egito.
Os eventos aqui profetizados (assombrosos  - sol em trevas, lua em sague) não se cumpriram literalmente, mas de forma poética e profética sim, porque as luzes desses reinos se apagaram, e suas vidas foram findas em sangue.
A profecia de Joel encontra lugar de predição em cumprimento no dia de Pentecoste no que tange a efusão do Espírito Santo (Atos 2); entretanto, as descrições dramáticas dos elementos cósmicos (sol em trevas, lua em sangue) faz alusão a intervenção divina para livrar Israel (no tempo de Joel) das nações inimigas; bem como tem um elemento escatológico norteador que diz respeito ao juízo de Deus sobre Israel que rejeitara o messias e não acolheram a redenção de Yahweh.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1.      CALVINO, João. Joel. Tradução: Vanderson Moura da Silva, Brasília: Editora Monergismo, 2008.
2.      FILHO, Isaltino Gomes  Coelho. Os Profetas Menores I – Oséias, Joel, Amós, Obadias e Jonas. Rio de Janeiro: JUERP, 2009.
3.      HUBBARD, David Allan . Joel e Amós : introdução e comentário, Tradução: Márcio Loureiro Redondo. São Paulo: Edições Vida Nova, 1996.         
4.      KAISER, JR, Walter C. O plano da promessa de Deus : teologia bíblica do Antigo e Novo Testamentos. Tradução: Gordon Chown, A. G. Mendes, São Paulo: Vida Nova, 2011.
5.      SCHOKEL, Luis Alonso.; DIAZ, J. L. SICRE, Profetas - Introducciones y comentario, Volume II Madrid: Ediciones Cristiandad, 1980.
6.      STORNIOLO, Ivo; BALANCIN, Euclides Martins. Bíblia Sagrada – Edição Pastoral. São Paulo: Paulus, 1990.
7.      VANGEMEREN, Willem A. Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Testamento, Tradução: Afonso Teixeira Filho e outros. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2011.
8.      WOLFF, Hans. Antropologia do Antigo Testamento. São Paulo: Edições Loyola, 1975.
9.      YATES, Kyle. Predicando de los Libros Proféticos. El Paso: Casa Bautista de Publicaciones, 1964.
10.  YOUNG, Edward J. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1964.

Informações:
      Este material foi elaborado para estudos sistemáticos dos Profetas Menores Ministrados pelo Pr. João Ricardo Ferreira de França na Escola Dominical da 1ª Igreja Presbiteriana de Piripiri – PI. Caso o leitor deseje os estudos anteriores ou posteriores relacionados a esta disciplina pode enviar um e-mail ao autor solicitando








[1] HUBBARD, David Allan .Joel e Amós : introdução e comentário, Tradução: Márcio Loureiro Redondo. São Paulo: Edições Vida Nova, 1996, P, 61.
[2] HUBBARD, David Allan .Joel e Amós : introdução e comentário, Tradução: Márcio Loureiro Redondo. São Paulo: Edições Vida Nova, 1996, P, 81.
[3] Ibid, p.82
[4] Idem.                                                                 
[5] FILHO, Isaltino Gomes  Coelho. Os Profetas Menores I – Oséias, Joel, Amós, Obadias e Jonas. Rio de Janeiro: JUERP, 2009, p.67.
[6] SCHOKEL, Luis Alonso.; DIAZ, J. L. SICRE, Profetas - Introducciones y comentario, Volume II Madrid: Ediciones Cristiandad, 1980, p. 927
[7]VANGEMEREN, Willem A. Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Testamento, Tradução: Afonso Teixeira Filho e outros. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2011, p. 84-85.
[8] WOLFF, Hans. Antropologia do Antigo Testamento. São Paulo: Edições Loyola, 1975, p.76.
[9] HUBBARD, David Allan .Joel e Amós : introdução e comentário, Tradução: Márcio Loureiro Redondo. São Paulo: Edições Vida Nova, 1996, p. 70.
[10] FILHO, Isaltino Gomes  Coelho. Os Profetas Menores I – Oséias, Joel, Amós, Obadias e Jonas. Rio de Janeiro: JUERP, 2009, p. 71.
[11] Ibid, p.74
[12] HUBBARD, David Allan .Joel e Amós : introdução e comentário, Tradução: Márcio Loureiro Redondo. São Paulo: Edições Vida Nova, 1996, p. 79.
[13] STORNIOLO, Ivo; BALANCIN, Euclides Martins. Bíblia Sagrada – Edição Pastoral. São Paulo: Paulus, 1990, p.1121 (comentário sobre  Joel 3.1-5)
[14] FILHO, Isaltino Gomes  Coelho. Os Profetas Menores I – Oséias, Joel, Amós, Obadias e Jonas. Rio de Janeiro: JUERP, 2009, p. 77

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O CONTEXTO DA PROFECIA DE JOEL - NOS DIAS DO PROFETA

II – O CONTEXTO DE JOEL

 Pr. João Ricardo Ferreira de França

2.1 – O mundo Político e Religioso.
            Vimos no estudo sobre Oséias que Samaria / Efraim (reino do Norte) havia se corrompido com a idolatria aos bezerros de outros[1] e que Judá ainda mantinha fidelidade na adoração a Yahweh; entretanto, Judá caiu no mesmo pecado que Samaria. Como isso ocorreu? Existiu um rei em Judá cujo nome era Acazias considerado um total fracasso político e religioso (2º Crônicas 22.1-2) sua mãe chamava-se Atalia que era uma nortista (do reino do Norte) idólatra e orientara o Rei Acazias para o mal (22.3).[2] Acazias em uma aliança desesperada com o Norte decide ir à guerra contra a Síria o cronista informa que esta era a “vontade de Deus” (2º Crônicas 22.7), mas o Rei acabou morto e não deixou descendente para ascender ao trono. Sua mãe de modo maquiavélico aniquilou toda extirpe real de Judá (2º Crônicas 22.10) e assim, ela usurpou o trono de Judá (2º Crônicas 22.12).
            Na matança que a mãe de Acazias havia promovido em Judá a filha do rei Jeosabeate esposa do sacerdote Jeoiada salvou a vida de um bebê chamado Joás. (2º Crônicas 22.11).
O golpe de estado fez com que uma nortista (do reino do norte) reinasse sobre Judá (reino do sul), e uma situação irônica uma mulher se sentou no trono de Jerusalém, e não era da descendência de Davi.
            O reinado de Atalia durou sete anos (2º Crônicas 23.1) e o menino Joás passou a reinar com sete anos, mas claro que ele não reinava e sim o sacerdote Jeoiada e quando este morreu foi sepultado como um rei (2º Crônicas 24.16), mas lamentavelmente, após a morte de Jeoiada, os príncipes de Judá, já infectados pelo mal da idolatria, levaram o rei Joás para a idolatria. (2º Crônicas 24.17,18).
 Somos informados pelo redator do livro de Reis que Joás era um bom rei, enquanto o sacerdote estava vivo, entretanto, ele não conseguira remover completamente a idolatria da nação (2º Reis 12.1-3), mas acabou sendo assassinado pelos seus servos (2º Reis 12.20,21). E foi um homem que não inspirou seus súditos a tributar-lhe honra, pois não foi sepultado como rei (2º Crônicas 24.25). Lembremos que Joás de maneira maquiavélica mandara matar Zacarias, filho do sacerdote Jeoiada, a quem o rei devia muito do que possuía. (2º Crônicas 24.20-22).
2.2 – O contexto Econômico e Ecológico nos dias de Joel.
            O reino do Sul estava enfrentando uma grande crise econômica devido a dois grandes problemas: a seca e a praga de gafanhotos. A seca é descrita no capítulo 1.20 e a praga dos gafanhotos apresentada no capítulo 1.4, para aquela comunidade que vivia da agricultura e da criação de ovelhas e gados, era sinal de uma grande calamidade.
            A praga de gafanhotos é bastante discutida pelos eruditos em Antigo Testamento, isto porque parece que o capítulo 1.4 indica que foi algo incomum, diante deste fato surgiram uma variação de interpretação para o fenômeno entre os hermeneutas da profecia de Joel um comentarista sobre os livros proféticos aborda este tema tecendo os seguintes comentários:
Qual é a interpretação do gafanhoto, em 2.1-11? Três interpretações são oferecidas: (1) a interpretação alegórica – conforme esta ideia, os gafanhotos se referem a exércitos inimigos que constantemente invadiam Judá para despojá-lo de seus bens; (2) A interpretação apocalíptica – segundo esta, os gafanhotos simbolizavam os exércitos terrenos que lutarão na última batalha, como se vê em Apocalipse 9 (3) A interpretação atual ou histórica – segundo ela, os gafanhotos foram reais, literais, Joel os viu descer numa nuvem sobre a vegetação da terra para devorá-la. Sem dúvidas esta interpretação é a mais correta e satisfatória.[3]
Houve uma grande seca aponto da vegetação que estava seca arder em fogo (Joel 1.19-20). E o resultado disso era a grande fome reinando em Judá. (Joel 1.10-12, 17). Entretanto, estes dois eventos calamitosos foram resultados da desobediência à Lei de Deus; pois, Yahweh já havia pronunciado antes um juízo dessa natureza àqueles que abandonam seus mandamentos e estatutos (Deuteronômio 28.15,23-24). O pastor Isaltino nos lembra que “a idolatria de tantos anos e que recebeu estímulos de Joás, recebia sua paga”[4]
O profeta Joel via nessas ações ecológicas a ação de Deus produzindo a escassez sobre a nação. Deus não tolera o pecado do seu povo e age contra o mal da idolatria reinando em Judá. Isso revela-nos que Deus é Senhor de todas as esferas da existência humana.[5]



[1] Para ter acesso a este estudo solicite uma cópia via: joaoricardoferreiradefranca@hotmail.com
[2] Veja-se FILHO, Isaltino Gomes  Coelho. Os Profetas Menores I – Oséias, Joel, Amós, Obadias e Jonas. Rio de Janeiro: JUERP, 2009, p.58-59
[3] YATES, Kyle. Predicando de los Libros Proféticos. El Paso: Casa Bautista de Publicaciones, 1964, p.276.
[4] FILHO, Isaltino Gomes  Coelho. Os Profetas Menores I – Oséias, Joel, Amós, Obadias e Jonas. Rio de Janeiro: JUERP, 2009, p.58-59
[5] idem

sábado, 21 de novembro de 2015

ESTUDO NA PROFECIA DE JOEL


JOEL

Pr. João Ricardo Ferreira de França*

I – QUESTÕES INTRODUTÓRIAS

            O nome deste profeta na língua original é “יוֹאֵ֖ל (yoe’l)” cujo sentido é “eu sou Deus”[1] ou “Yahweh é Deus” temos poucas informações sobre ele. Somos informados que  o nome  de seu pai é “פְּתוּאֵֽל  (pethuel)” nome que tem o sentido de “persuadido por Deus”[2] (Joel 1.1). Ele morou e profetizou para Judá (Reino do Sul). Alguns comentaristas sugerem que ele tenha sido sacerdote ou que tinha “um vínculo oficial com o templo”[3]Isto porque no seu livro há muitas referências ao “ofício Sacerdotal”[4]
            O erudito Judeu Ibn Ezra “considerava impossível saber quando foi escrita esta obra”[5] Calvino é de opinião similar ao declarar que “o tempo no qual ele [Joel] profetizou é incerto”[6] outro escritor informa que “as datas propostas para o ministério de Joel e para a redação de seu livro variam desde o início do nono século a.C.”[7] As datas para a escrita do livro variam de 830 a.C até 325 a.C. E o período adequado para situar a profecia é no reinado de Joás.[8]

A terceira verdade a ser estudada é a questão “qual é a finalidade da profecia de Joel?”  resposta “advertir a nação sobre a necessidade de humildade e arrependimento, bem como sobre a certeza do julgamento vindouro.”[9]

II – O CONTEXTO DE JOEL

            Vimos no estudo sobre Oséias que Samaria / Efraim (reino do Norte) havia se corrompido com a idolatria aos bezerros de outros[10] e que Judá ainda mantinha fidelidade na adoração a Yahweh; entretanto, Judá caiu no mesmo pecado que Samaria. Como isso ocorreu? Existiu um rei em Judá cujo nome era Acazias considerado um total fracasso político e religioso (2º Crônicas 22.1-2) sua mãe chamava-se Atalia que era uma nortista (do reino do Norte) idólatra e orientara o Rei Acazias para o mal (22.3).[11] Acazias em uma aliança desesperada com o Norte decide ir à guerra contra a Síria o cronista informa que esta era a “vontade de Deus” (2º Crônicas 22.7), mas o Rei acabou morto e não deixou descendente para ascender ao trono. Sua mãe de modo maquiavélico aniquilou toda extirpe real de Judá (2º Crônicas 22.10) e assim, ela usurpou o trono de Judá (2º Crônicas 22.12).
            Na matança que a mãe de Acazias havia promovido em Judá a filha do rei Jeosabeate esposa do sacerdote Jeoiada salvou a vida de um bebê chamado Joás. (2º Crônicas 22.11).
O golpe de estado fez com que uma nortista (do reino do norte) reinasse sobre Judá (reino do sul), e uma situação irônica uma mulher se sentou no trono de Jerusalém, e não era da descendência de Davi.
            O reinado de Atalia durou sete anos (2º Crônicas 23.1) e o menino Joás passou a reinar com sete anos, mas claro que ele não reinava e sim o sacerdote Jeoiada e quando este morreu foi sepultado como um rei (2º Crônicas 24.16), mas lamentavelmente, após a morte de Jeoiada, os príncipes de Judá, já infectados pelo mal da idolatria, levaram o rei Joás para a idolatria. (2º Crônicas 24.17,18).
 Somos informados pelo redator do livro de Reis que Joás era um bom rei, enquanto o sacerdote estava vivo, entretanto, ele não conseguira remover completamente a idolatria da nação (2º Reis 12.1-3), mas acabou sendo assassinado pelos seus servos (2º Reis 12.20,21). E foi um homem que não inspirou seus súditos a tributar-lhe honra, pois não foi sepultado como rei (2º Crônicas 24.25). Lembremos que Joás de maneira maquiavélica mandara matar Zacarias, filho do sacerdote Jeoiada, a quem o rei devia muito do que possuía. (2º Crônicas 24.20-22).
            O reino do Sul estava enfrentando uma grande crise econômica devido a dois grandes problemas: a seca e a praga de gafanhotos. A seca é descrita no capítulo 1.20 e a praga dos gafanhotos apresentada no capítulo 1.4, para aquela comunidade que vivia da agricultura e da criação de ovelhas e gados, era sinal de uma grande calamidade.
            A praga de gafanhotos é bastante discutida pelos eruditos em Antigo Testamento, isto porque parece que o capítulo 1.4 indica que foi algo incomum, diante deste fato surgiram uma variação de interpretação para o fenômeno entre os hermeneutas da profecia de Joel um comentarista sobre os livros proféticos aborda este tema tecendo os seguintes comentários:
Qual é a interpretação do gafanhoto, em 2.1-11? Três interpretações são oferecidas: (1) a interpretação alegórica – conforme esta ideia, os gafanhotos se referem a exércitos inimigos que constantemente invadiam Judá para despojá-lo de seus bens; (2) A interpretação apocalíptica – segundo esta, os gafanhotos simbolizavam os exércitos terrenos que lutarão na última batalha, como se vê em Apocalipse 9 (3) A interpretação atual ou histórica – segundo ela, os gafanhotos foram reais, literais, Joel os viu descer numa nuvem sobre a vegetação da terra para devorá-la. Sem dúvidas esta interpretação é a mais correta e satisfatória.[12]
Houve uma grande seca aponto da vegetação que estava seca arder em fogo (Joel 1.19-20). E o resultado disso era a grande fome reinando em Judá. (Joel 1.10-12, 17). Entretanto, estes dois eventos calamitosos foram resultados da desobediência à Lei de Deus; pois, Yahweh já havia pronunciado antes um juízo dessa natureza àqueles que abandonam seus mandamentos e estatutos (Deuteronômio 28.15,23-24). O pastor Isaltino nos lembra que “a idolatria de tantos anos e que recebeu estímulos de Joás, recebia sua paga”[13]
O profeta Joel via nessas ações ecológicas a ação de Deus produzindo a escassez sobre a nação. Deus não tolera o pecado do seu povo e age contra o mal da idolatria reinando em Judá. Isso revela-nos que Deus é Senhor de todas as esferas da existência humana.[14]



* O autor deste estudo é Ministro da Palavra pela Igreja Presbiteriana do Brasil. Formado em Teologia Reformada pelo Seminário Presbiteriano do Norte (SPN) em Recife – PE.
[1] FILHO, Isaltino Gomes  Coelho. Os Profetas Menores I – Oséias, Joel, Amós, Obadias e Jonas. Rio de Janeiro: JUERP, 2009, p.57.
[2] Idem
[3] HUBBARD, David Allan . Joel e Amós : introdução e comentário, Tradução: Márcio Loureiro Redondo. São Paulo: Edições Vida Nova, 1996, p.32
[4] FILHO, Isaltino Gomes  Coelho. Os Profetas Menores I – Oséias, Joel, Amós, Obadias e Jonas. Rio de Janeiro: JUERP, 2009, p.57.
[5] SCHOKEL, Luis Alonso.; DIAZ, J. L. SICRE, Profetas - Introducciones y comentario, Volume II Madrid: Ediciones Cristiandad, 1980, p. 924
[6] CALVINO, João. Joel. Tradução: Vanderson Moura da Silva, Brasília: Editora Monergismo, 2008, p.13
[7] HUBBARD, David Allan . Joel e Amós : introdução e comentário, Tradução: Márcio Loureiro Redondo. São Paulo: Edições Vida Nova, 1996, p.27.
[8] KAISER, JR, Walter C. O plano da promessa de Deus : teologia bíblica do Antigo e Novo Testamentos. Tradução: Gordon Chown, A. G. Mendes, São Paulo: Vida Nova, 2011,  p.167
[9] YOUNG, Edward J. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1964,  P. 220.
[10] Para ter acesso a este estudo solicite uma cópia via: joaoricardoferreiradefranca@hotmail.com
[11] Veja-se FILHO, Isaltino Gomes  Coelho. Os Profetas Menores I – Oséias, Joel, Amós, Obadias e Jonas. Rio de Janeiro: JUERP, 2009, p.58-59
[12] YATES, Kyle. Predicando de los Libros Proféticos. El Paso: Casa Bautista de Publicaciones, 1964, p.276.
[13] FILHO, Isaltino Gomes  Coelho. Os Profetas Menores I – Oséias, Joel, Amós, Obadias e Jonas. Rio de Janeiro: JUERP, 2009, p.58-59
[14] idem

terça-feira, 8 de setembro de 2015

OS MANDATOS CRIACIONAIS

OS MANDATOS CRIACIONAIS:
Rev. João Ricardo Ferreira de França.*
Introdução:
            O registro da revelação apresenta-se com três mandatos específicos Cultural, Social e Espiritual. Estes mandatos são os condutores da aliança de Deus com seu povo. Estes fios condutores da aliança configura a vida humana em sua totalidade. Dentro desta concepção insere-se a ideia da tríplice estruturada bíblica de uma cosmovisão que envolve: a criação, queda e redenção.
A tríplice estrutura e os mandatos criacionais são discutidos e apresentados pela Teologia Bíblica.  A definição desta ciência é a seguinte: “Teologia bíblica é aquele ramo da teologia exegética que lida como o processo da auto-revelação de Deus registrada na Bíblia”.[1]  
Podemos assegurar que a cosmovisão [baseada na tríplice estrutura: criação, queda e redenção] é permeada pelos mandatos da criação como fios condutores do pacto de Deus com o homem. Diante disso passaremos a estudar as três ordenanças criacionais:
I – MANDATO CULTURAL.
            O que significa este mandato? Este mandato “acentua especificamente a relação da humanidade com o cosmos” [2]. A criação é o teatro da glória de Deus e o palco de nossa atuação.
Onde se fundamenta este mandato? A resposta encontra-se no texto de Gênesis 1.28: “E Deus os abençoou e lhe disse: sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra.”
            A primeira frase deste texto “sede fecundos, multiplicai-vos” – “significa desenvolver o mundo social: formar famílias, igrejas, escolas, cidades, governos, leis. A segunda frase - enchei a terra e sujeitai-a – significa subordinar o mundo natural: fazer colheitas, construir pontes, projetar computadores, compor músicas.” E se faz necessário insistir que a passagem em foco é “chamada de o mandato cultural, porque nos fala que nosso propósito original era criar culturas, construir civilizações – nada mais”[3]
            O mandato cultural implica na redenção de culturas inteiras. O vocábulo dominar, empregado aqui nesta passagem, indica a ideia de “capacidade real e supervisão”. A palavra hebraica empregada “ וְיִרְדּוּ ”(veiredu) que vem da raiz “hdr” (radar) que tem o sentido de “governar, dominar” e até “subjulgar”[4]. Sabemos que em “Gênesis 1.26, 28, o verbo ocorre com um sentido positivo quando se declara que a humanidade, criada à imagem de Deus, deve subjugar a terra e reinar sobre (rdh) todos os animais. À espécie humana é dada a responsabilidade sobre a criação de Deus, como fica evidente pelo fato de que esse comando é parte da bênção de Deus (1.28)”[5].
            Devemos ressaltar que o uso do verbo dominar aqui não consistia em uma “licença para a humanidade abusar das ordens da criação”, mas pelo contrário ele deveria “ser apenas um vice-regente de Deus, e a ele, tinha de prestar contas”.[6] O aspecto da “Imago Dei” é a força propulsora para o conceito do mandato cultural na esfera do domínio neste mundo.
            Ao estudarmos sobre este mandato aprendemos que o homem é chamado para santificar e colocar cada esfera de sua vida, sua educação, seus recursos nas mãos de Cristo; e, feito isso, saber administrar cada área já mencionada para a glória de Deus neste mundo. Nancy Pearcey nos alerta: “A lição do mandato cultural é que nosso senso de cumprimento depende de nos dedicarmos ao trabalho criativo e construtivo”.[7] A isso nós chamamos de redenção cósmica. Deus nos deu este mandato para exercermos o domínio nas mais diversas áreas do saber; e para o resgate das culturas para a glória dele somente.

II – O MANDATO SOCIAL
            O segundo mandato a ser considerado é chamado de Mandato Social. Van Groningen vai dizer que este mandato pactual “fala das relações sociais’[8]. Este mandato está fundamentado em Gênesis 2.21-24:
Então, o SENHOR Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas costelas e fechou o lugar com carne. E a costela que o SENHOR Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e lha trouxe. E disse o homem: Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada. Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.
Temos a estrutura familiar estabelecida. A família é ordenada em termos de um desapegar-se  e unir-se a outrem. Embora, já tenhamos considerado que um dos aspectos do mandato cultural é a criação familiar. Isto se torna evidente por causa da ordem divina de haver uma “fecundação e multiplicação” em Gênesis 1.26-28; todavia, esta ordem da formulação familiar está pertinentemente estabelecida aqui neste trecho de Gênesis 2.21-24.
A criação da mulher tem como objetivo evitar a solidão de Adão. O princípio extraído aqui é que o homem não é uma ilha, isolada, sozinha sem relação com outros. O companheirismo é algo que Deus prima em sua criação – o casamento não deve ser uma prisão para os solteiros, mas a liberdade da amizade e cumplicidade matrimonial.
Longman III tem uma palavra muito significativa sobre esta realidade e declara que o “casamento envolve um homem e uma mulher deixarem os pais e constituírem uma nova unidade familiar”.[9] Van Groningen novamente nos diz que este “mandato pôde ser dado porque Deus criou a humanidade à sua imagem e semelhança e como macho e fêmea. O relacionamento tinha que ser visto como um de igualdade diante de Deus”.[10]Aqui aprendemos que a organização familiar exige uma relação heterossexual. Adão se une a sua mulher. E não a outro homem, nem mesmo uma mulher se une a outra. Mas o que está escrito é que “macho e fêmea” formam uma unidade neste mandato.
Em Gênesis 1.28 temos a extensão deste mandato de forma interessante. A finalidade na geração de filhos e filhas para cumprir este mandato pactual era de capital importância. “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra”. O verbo fecundar que aparece no texto no hebraico é “פְּר֥וּ” – peru – tem o sentido de “frutificar”. O mandato social estabelece uma necessidade que o homem tem constituir familias e sociedades para cumprir a ordem original de Deus dada à raça humana. O homem deveria continuar sua posição de dominio social com a perpetuação de sua prole.
III – O MANDATO ESPIRITUAL.
            O terceiro aspecto a ser considerado é o Mandato Espiritual. Envolvia comunhão e obediência a Deus. Esta comunhão estava marcada pelo dia de adoração ao soberano de todas as coisas. Conforme vemos em Gênesis 2.1-4:
Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército. E, havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera. Esta é a gênese dos céus e da terra quando foram criados, quando o SENHOR Deus os criou.
            O conceito embrionário de um dia descanso esta alicerçado nesta passagem que evoca a comunhão primeva que o casal Adão e Eva desfrutavam com Deus. O shabbath de Deus entra em ação na narrativa bíblica “וַיִּשְׁבֹּת֙ ” ao trazer o sábado à existência Deus estava condescendo ao homem para que este pudesse desfrutar de uma comunhão intima e pessoal com Deus.
            Devemos lembrar que a guarda do sábado estava ligada aos dois mandatos pactuais anteriores:
A convicção que a guarda do sábado é uma obrigação perpétua se baseia em parte na instituição do sábado em Gênesis 2.1-3. Juntamente com o trabalho (Gn. 1.24; 2.15) e o casamento (Gn. 2.18-25), Deus instituiu o sábado para governar a vida de toda a humanidade. Assim como são permanentes as ordenanças do trabalho e do casamento, assim é a ordenança do sábado”.[11]
            No mandato espiritual ou de comunhão o homem é criado para que possa deleitar-se no dia que Deus separou para ele. Esta comunhão com Deus se dava no ambiente litúrgico.
            Ainda neste mandato estava envolvida a ideia de obediência perene a Deus conforme vemos em Gênesis 2.16-17:
E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.
            Aqui temos o homem sendo chamado a pactuar com Deus. Este pacto tem sido considerado como pacto das obras, e parece-nos, que alguns sugerem que Adão deveria obedecer este pacto para obter vida eterna. Todavia, alguns preferem chama-lo de pacto de vida; e por quê? A resposta é simples aqui Deus não lhe promete a vida, mas lhe assegura da morte certa caso o desobedeça.
            A vida marcada pela comunhão com Deus e por uma espiritualidade autêntica. Adão deveria preservar essa comunhão que implicava em vida; todavia, este homem deliberadamente decide violar o pacto, violar a comunhão e em resposta a esta rebeldia ele recebe a morte.[12]
            Este mandato pactual implica numa vida de obediência e adoração a Deus de forma inegociável. O homem foi criado para glorificar a Deus e se deleitar nele, e isto é feito mediante a obediência irrestrita a Palavra de Deus bem como em celebração litúrgica a Deus.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
            Na Teologia Reformada este tema dos Mandatos Criacionais é amplamente desenvolvido, todavia, é pouco aplicado e lecionado à igreja de Cristo. Podemos, ver nesta breve introdução o quão é importante para a vida e maturidade da igreja. Vimos neste estudo que a ordem para governar a terra tem sido negligenciada pela igreja de nossos dias; bem como a preservação das relações sociais hoje é ameaçado pela criação de leis contrárias a Palavra de Deus.
            No espectro espiritual podemos tirar como implicação o fato da fraqueza e letargia da igreja deve-se ao fato da negligência profunda de uma comunhão autêntica com Deus no dia do Senhor (domingo ou sábado cristão); pois, a igreja de hoje está caminhando para o secularismo, individualismo e pragmatismo – o divino não ocupa, mas a centralidade na vida das pessoas; a comunhão virou apenas temas de sermões para o final de ano, pois, cada qual vive no seu mundo sem viver a comunhão dos santos e a igreja tem empregado esforços para que haja resultados imediatos – negligenciando o crescimento saudável da igreja por meio do culto corporativo no dia do Senhor.
            Devemos reconhecer que fomos e somos criados para a obediência irrestrita a Deus e nos deleitarmos nele; devemos cumprir os nossos papéis originais intencionados por Des para a nossa vida. Deus nos criou para que tivéssemos o domínio sobre este mundo como vice-regentes, reconhecendo que cada espaço na criação é reclamado por Cristo como sendo de sua exclusiva propriedade.
            Neste processo devemos trazer à mente e ao coração que as nossas famílias são também projetos de Deus para nós, constituir famílias está atrelado à intenção original de Deus para a humanidade. A sociedade necessita de famílias equilibras e tementes a Deus o casamento e a procriação de uma descendência santa são alicerces fundamentais para a construção de uma sociedade justa.
            Por fim, devemos trazer ao coração que aquilo que confere sentido à existência é eterno e imperecível, por isso, devemos reservar um tempo para a contemplação e adoração ao Deus eterno que tudo criou. O encontro com Yahweh no seu dia é de capital importância para nós, pois, é no culto onde a nossa alma é alimentada e alentada pela Palavra imperecível de Deus. O culto familiar, o culto individual e o público são oportunidades únicas de um deleitoso prazer em Deus.





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1.      GRONINGEN, Gerard Van. Criação e Consumação – O Reino, a Aliança e o Mediador. Tradução: Denise Meister. São Paulo: Cultura Cristã, 2002, volume 1.
2.      ____________________. Revelação Messiânica no Antigo Testamento. Tradução: Cláudio Wagner. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.
3.      KAISER JR., Walter C. O Plano da Promessa de Deus – Teologia Bíblica do Antigo e Novo Testamentos. Tradução: Gordon Chown, A.G. Mendes. São Paulo: Vida Nova, 2011.
4.      KILPP, Nelson. Dicionário Hebraico-Portugês e Aramaico-Português. São Leopoldo: Sinodal; Petrópolis: Editora Vozes, 1987.
5.      LONGMAN III, Tremper. Como Ler Gênesis. Márcio Lourenço. São Paulo: Vida Nova, 2009.
6.      PEARCEY, Nancy. Verdade Absoluta – Libertando o Cristianismo de seu Cativeiro Cultural. Tradução: Luis Aron. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.
7.      PIPA, Joseph. O Dia do Senhor. Tradução: Hope Gordon Silva. São Paulo: Os puritanos, 2000.
8.      VANGEMEREN,Willem A.(org.) Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Testamento. Tradutor: Afonso Teixeira Filho e outros. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p.1052.
9.      VOS, Geerhardus. Teologia Bíblica – Antigo e Novo Testamentos. Tradução: Alberto Almeida de Paula. São Paulo: Cultura Cristã, 2010.




* O autor é Ministro da Palavra pela Igreja presbiteriana do Brasil. Atualmente é pastor na Primeira Igreja Presbiteriana de Piripiri – PI. Formou-se em Teologia Reformada no Seminário Presbiteriano do Norte (SPN) em Recife- PE. Foi professor de línguas bíblicas (Grego e Hebraico) no Seminário Presbiteriano Fundamentalista do Brasil (SPFB) Recife – PE. É casado com Géssica Araújo Soares Nascimento de França e é pai de Lucas Luis Nascimento de França.
[1] VOS, Geerhardus. Teologia Bíblica – Antigo e Novo Testamentos. Tradução: Alberto Almeida de Paula. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p.16.
[2] GRONINGEN, Gerard van. Revelação Messiânica no Antigo Testamento. Tradução: Cláudio Wagner. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p.100.
[3] PEARCEY, Nancy. Verdade Absoluta – Libertando o Cristianismo de seu Cativeiro Cultural. Tradução: Luis Aron. Rio de Janeiro: CPAD, 2011, p.51.
[4] KILPP, Nelson. Dicionário Hebraico-Portugês e Aramaico-Português. São Leopoldo: Sinodal; Petrópolis: Editora Vozes, 1987, p.223.
[5] VANGEMEREN,Willem A.(org.) Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Testamento. Tradutor: Afonso Teixeira Filho e outros. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p.1052.
[6] KAISER JR., Walter C. O Plano da Promessa de Deus – Teologia Bíblica do Antigo e Novo Testamentos. Tradução: Gordon Chown, A.G. Mendes. São Paulo: Vida Nova, 2011, p.39.
[7] PEARCEY, Nancy. Verdade Absoluta – Libertando o Cristianismo de seu Cativeiro Cultural. Tradução: Luis Aron. Rio de Janeiro: CPAD, 2011, p.53
[8] GRONINGEN, Gerard van. Revelação Messiânica no Antigo Testamento. Tradução: Cláudio Wagner. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p.100.
[9] LONGMAN III, Tremper. Como Ler Gênesis. Márcio Lourenço. São Paulo: Vida Nova, 2009, p.132.
[10] GRONINGEN, Gerard Van. Criação e Consumação – O Reino, a Aliança e o Mediador. Tradução: Denise Meister. São Paulo: Cultura Cristã, 2002, volume 1, p.91.
[11] PIPA, Joseph. O Dia do Senhor. Tradução: Hope Gordon Silva. São Paulo: Os puritanos, 2000, p. 29.
[12] Cf. GRONINGEN, Gerard Van. Criação e Consumação – O Reino, a Aliança e o Mediador. Tradução: Denise Meister. São Paulo: Cultura Cristã, 2002, volume 1, p.92.